Gosto de me contrariar a mim própria e especialmente de fingir que a solidão não é algo tão próprio de mim.  Quem diz que uma miúda como eu gosta de estar solitária? Tenho sempre pessoas ao meu redor, umas a cuidar de mim, outras a tentarem roubarem-me o coração, outras a quem tento roubar o coração. Eu gosto de sentir-me sozinha de vez em quando, eu com os meus botões e com os meus pensamentos tão sem sentido, mas que são os meus melhores amigos. Gosto de sentir-me cheia de pessoas ao redor, de me rir de tudo, de não me calar nem por um segundo. É, umas pessoas chamam-lhe engraçado, outros irritante. Eu escolho mais a segunda opção porque engraçada de certeza que não sou. As piadas que utilizo são sempre aquelas sequíssimas, mostrando como consigo ser exatamente igual a um café amargo...  é  acho que inconstância ainda é uma palavra melhor que solitária. É que solitária eu não sou, disso eu sei bem. Tenho uma alegria dentro de mim que nunca nada conseguiu tirar durante muito tempo. Ela sempre venceu tudo o que a deitou abaixo. Mas ás vezes apetece-me explicar a todo o mundo que ninguém me conhece de verdade. Apesar da imagem que mostro de mim própria - uma rapariga sempre a rir, sem problemas, sem chatices, sem preocupações - eu também tenho os meus segredos. Pareço ser uma rapariga tão fácil de perceber e no fundo torno-me um quebra-cabeças. Uma quebra-cabeças que gosta de fingir que não é uma quebra-cabeças. Já viram algo assim? Mas eu também não sei retratar-me e ainda bem, pois explorar a minha alma é algo que desejo nunca fazer. Torno os meus sentimentos algo controlável e mando neles como se algum dia eles me obedecessem... Oh, ser assim é bom sabem. Acordar todas as manhãs com a intensidade de quem abre os olhos pela primeira vez. Adormecer com a vontade de viver mais um dia. Sou uma miúda perdida, sem destino, sem um caminho feito. Mas uma miúda perdida por um bom caminho, onde não quer ser encontrada. Uma rapariga que ainda anda há procura do seu caminho, mas não tem paciência para andar e deixa-se viver até aparecer. Sem preocupações, sem problemas. E oiçam bem o que vos digo, nunca viram uma miúda tão feliz como eu. É que mesmo a vida sendo sempre outra coisa, sempre a contrariar todos os nossos planos, acabei por descobrir o verdadeiro sentido das coisas. A deixar tudo o que diziam de mim para trás. A preocupar-me comigo acima de tudo o resto. Deixei de perder tempo com tudo, a focar-me no que realmente é importante e a viver toda esta aventura, porque ela vai-se rápido. E acreditem, sentir o coração a bater, a pulsação totalmente acelerada é a melhor sensação do mundo.

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